Corpo-Identidade-Terror
CORPO - IDENTIDADE
Para o olhar descriminatório, que classifica, hierarquiza, segrega e exclui, o corpo do outro, a cor de sua pele ou de seu cabelo, determina sua identidade. Mas a identidade também se joga a partir do alheio, em uma dialética de proximidade e distância. Aquele que busca sua identidade negada talvez a encontre ao perdê-la (Fotografias de Andrés Di Tella); a lembrança do primeiro encontro com o outro cobra um valor distinto segundo de que lado se olhe, o do branco ocidental ou o do indio ikpeng do Amazonas (Pirinop, Meu primeiro contato de Mari Correa e Kumaré Ikpeng); a forma de por o corpo dos ex-presidentes representa a identidade de um povo mais do que seus ex-eleitores prefeririam crer (Eu presidente, de Mariano Cohn e Gastón Duprat); e a vida de um militante revolucionário adquire distintos sentidos na lembrança, seja na de sua filha ou na de uma vizinha que foi testemunha de seu sequestro (Los rubios de Albertina Carri).
TERROR:
O terrorismo de estado na Argentina, abusou dos corpos, lhes perseguindo, capturando, torturando, atirando ao mar, enterrando clandestinamente em fossas comuns, fazendo-lhes desaparecer. Mas esses mesmos corpos que resistiram ainda resistem e, hoje mesmo, seguem representando a resistência ao terror e ao esquecimento, na obra de cineastas que elaboram a memória (Proibido, de Andrés Di Tella); no trabalho da equipe de antropologia forense que lhe devolve identidade aos corpos que a perderam (O último confim, de Pablo Ratto); no compromisso dos ex-detidos-desaparecidos que conseguem fazer deter e julgar a quem os torturou (Cavallo entre as grades, de Shula Erenberg, Laura Imperiale y María Inés Roqué); e na obstinação do filho de uma desaparecida que – justamente – põe o corpo em uma investigação sobre o destino de sua mãe, pondo no tecido do juizo todo o corpo social (M, de Nicolás Prividera).
Curador: Andrés Di Tella.
Biografía:
Andrés Di Tella: Documentarista argentino e curador. Recebeu a bolsa Guggenheim. Criou o “Festival Internacional de Cine Independiente” em Buenos Aires. Atualmente dirige o “Festival de Documentários Princeton”, na Princeton University, Estados Unidos.