A visita do presidenciável ou os morcegos estão comendo os abacates maduros (1984)
Esta peça, criada durante o movimento Diretas Já, que pleiteou eleições diretas no Brasil, é uma parábola do momento político que o país estava enfrentando. Ela conta a estória de um casal de velhinhos que tinha vivido na mesma casa durante os últimos vinte anos e de como a casa foi-se deteriorando dia após dia. O casal encorpora a classe média conservadora que apoiou o golpe militar de 1964, mas que, duas décadas depois, perdeu os seus privilégios e foi às ruas para lutar por Diretas Já. Entrelaçada com estórias paralelas – um casal que está sendo despejado, uma cena de tortura e o julgamento de um policial – a audiência vê a casa literalmente cair aos pedaços diante deles. Na cena final, quando o candidato à presidência chega, uma mão gigante aparece para lhe entregar a faixa presidencial e o prédio desmorona com estilhaços, vazamentos e poeira.
O amargo santo da purificação — Uma visão alegórica e barroca da vida, paixão e morte do revolucionário Carlos Marighella (2008)
O amargo santo da purificação conta a estória do revolucionário marxista brasileiro Carlos Marighella, uma figura central na luta contra ambas as ditaduras enfrentadas pelo país no século XX – o Estado Novo de Getúlio Vargas nos anos 30 e 40 e a ditadura militar, instaurada em 1964. Esta visão alegórica e barroca da sua vida, paixão e morte revive um herói popular que os setores dominantes tentaram apagar da história nacional por décadas. Começando a partir das suas origens na Bahia, esta produção de rua apresenta a sua juventude, a sua poesia, a resistência ao Estado Novo, a sua prisão, a nova Constituição, a proscrição do Partido Comunista, o conflito armado contra a ditadura militar e a emboscada que terminou com a sua morte em 1969. O texto é escrito coletivamente, com base nos poemas de Marighella, transformados em canções. Através de máscaras, elementos visuais da cultura afro-brasileira, e de uma estética baseada nos filmes de Glauber Rocha, Ói Nóis traz para as ruas da cidade uma abordagem épica das aspirações de liberdade e justiça do povo brasileiro.
Sessão de Anistia a Zé Celso (2010)
Em 1974, José Celso Martinez Corrêa foi preso pela ditadura militar e levado para o DOPS – o Departamento de Ordem Política e Social –, onde ele foi brutalmente torturado e posto na cadeia. Trinta anos depois, o diretor teatral deu entrada em um pedido de perdão oficial e de compensação perante a Comissão de Anistia. Esta comissão tinha sido criada pela Lei no 10.559 de 2002, que complementou a infame Lei no 6.683 de 1979, que concedeu anistia geral para todos que haviam cometido crimes políticos sob o regime ditatorial, tanto como parte do exército quanto da resistência.
Em 2010, a Comissão de Anistia realizou a sua 35a sessão pública no Teatro Oficina, para realizar a leitura e a votação do pedido de Zé Celso. À teatricalidade oficial da lei, combinou-se O Banquete, uma peça do grupo, e a audiência foi recebida com uma canção servo-croata, seguida da lavação dos seus pés por um dos membros do elenco, caracterizado. O relator para o caso foi o advogado e ator Prudente José Silveira Mello, que fez a leitura do relatório vestindo um terno e de pés descalços, no cenário da peça.